quinta-feira, 6 de maio de 2010

(Des)ilusão

Caminharam pela mesma calçada, Ela cabisbaixa e cambaleante, vacilando entre as passadas, Ele determinado, com passos fortes e decididos. Ela tinha aparência frágil, enquanto que Ele exibia um ar empertigado. Não se olhavam, embora um soubesse da presença do outro.

Antes de atravessarem a rua o silêncio foi rompido:

- Sua ausência nunca foi sentida. Ela vociferou a frase como quem atira dardos, mas Ele não esboçou reação, apenas redarguiu calmamente:

- Você precisa de mim, quer que eu fique por perto, sabe que eu faço mal, mas não pode negar que se sente bem com isso. Eu faço você se sentir melhor do que de fato é, por que o que eu tenho de pior justifica o seu melhor. Não vê que somos quase um, que não posso soltar sua mão?

Sem rumo, Ela saiu com os mesmos passos ébrios. Ele não se queixou de segui-la encobrindo suas pegadas enquanto entoava uma canção:

“Ilusão, doce ilusão, não vês que só és bela perto de mim, o Desengano, propriamente (Des)ilusão?”

Um comentário:

Cris disse...

A ilusão e o poder do "pode ser que...":

Ela pode ser a cor do remédio que salva o moribundo.
Pode ser a roupa preferida que se usa no dia em que tudo dá certo.
Pode ser que eu beije o mais sórdido dos seres humanos e o transforme no mais venerável da terra.

É fé? É ingenuidade? Ignorância? Sorte? Lógica? Loucura? Quem sabe...pode ser!

Só sei que ao acordar vivo ela é sempre a primeira a nos dar bom dia.

Enfim, a última das ilusões é achar que perdemos as ilusões.