Se tiver paciência, deixo você me ler à noite e me traduzir pra mim,
só pra te ver de madrugada dedilhando minhas consoantes no violão.
Se tiver paciência, escrevo pra
você sobre você em mim. E, se preciso for, flexiono meus verbos com seus pronomes no presente
do indicativo. Posso soletrar minhas intenções, ideias amordaçadas pelo bom
senso, todas no porão da razão.
Se tiver paciência, tranço meu pronome com seu
substantivo, declaro meus predicados pra você, crio uma nova sintaxe pra vivermos insubordinados, mas só se for paciente e me ler até o fim, meus pensamentos em estrofes, minhas
falas em parágrafos, pontuadas por silêncios escorregadios.
Se tiver paciência, invento um passado para
melhor maldizer o seu sem mim, embrulho o futuro para presente com mil laços
feitos todos em nós.
Se tiver paciência, vou deixar meus artigos
transvariando com seus gêneros, rabisco alguns advérbios para que você
entenda minha intensidade. E se você sobreviver à loucura e urgência das
minhas interjeições, talvez queira criar comigo uma nova classe gramatical, com pronomes que podem ser pessoais sem precisarem ser oblíquos.
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