Somente
agora me ocorreu as inúmeras oportunidades que eu perdi de dizer:
“Desculpe, sou filha de escorpiana”. Somente agora me ocorreu
pensar no quanto isso significa. É preciso dizer e os entendedores
me entenderão, não é fácil ser filha de uma escorpiana, mas poucas
coisas são tão apaixonantes quanto o jeito vibrante dessa
“espécie”. Ser filha de uma escorpiana é crescer alimentada com
entranhas, literalmente. É desde cedo aprender, nem que seja na
marra, a viver visceralmente com os extremos, a dançar neles, com eles, por eles,
apesar deles.
Eu
tive o privilégio de crescer com uma mulher daquele tipo que nunca
passa despercebida, seja qual for o lugar. O magnetismo dela é
irresistível, tem brilho e mistério nos olhos dela, não há quem
não queira ser alvo. Tem simplicidade e extravagância no riso dela,
não há quem não queira ser o motivo.
Ela
hipnotiza, tem graça nos movimentos, é impossível não tentar
acompanhar os malabares dela fazendo mil coisas ao mesmo tempo,
sempre cantando. Ela faz tudo parecer simples, qualquer que seja a
tarefa parece parte de uma dança em que ela sabe de cor a
coreografia. Ela é cantora, bailarina, domadora de leão, minha
heroína. A vida com ela vibra nas notas mais altas e ela parece
nunca estar fora do tom. Com e por ela aprendi a ser mais
forte, mais valente e destemida. Foi ela quem me ensinou que é
preciso olhar menos nos retrovisores para dirigir melhor.
Ela
é do tipo de mulher que intimida e encanta na mesma medida. Ela sabe
ser leve sem perder a intensidade, sabe dizer não sem deixar de ser
acolhedora. Não tem palavra que alcance o sentimento de gratidão,
de saudade, de amor que sinto por essa mulher. Poucos
colos nesse mundo vão ser tão confortáveis. Não tem olhar de
reprovação mais doído, assim como não tem sorriso mais iluminado.
Ouvir um "Boa sorte, filha", sempre vai ser
equivalente a encontrar um trevo de quatro folhas. Não somente agora
me ocorreu a sorte que eu tenho de ser filha de uma escorpiana em
especial. Eu te amo, mãe. Feliz aniversário.
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