Naquele
dia tudo foi dito por arquejos. Quantas confidências não guardava aquela
respiração entrecortada? Boca com boca. Arrepio na nuca. Os desejos, insubordinados,
traindo a razão. As mãos vinham vestindo o corpo, assim, justas, justas, desfazendo-
se dos botões. Era pele em busca de pele.
Senti
a saudade morrendo. Com todo aquele ardor se apossando de nossos corpos, a
loucura fez as vezes de conselheira. Foi entre beijos metafísicos que nos
abandonamos na morada do proibido, ou escada de incêndio da faculdade.
Aquela
onda de calor molhado parecia me tragar. O chão fez-se convidativo e as mãos já
eram escravas de nossos quereres. O tempo se esvaindo em gotas de suor e as pernas
embaralhadas nem percebiam, mas a moça da limpeza sim: - O QUE VOCÊS ESTÃO
FAZENDO AQUI?!?
O
coração aos pulos. O silêncio. O riso incontrolável. A falta de jeito pra descer
as escadas enquanto nos vestíamos. E te beijei no fim da fuga, lembro. Espasmos
da memória que já desisti de tentar controlar. Cuido bem da falta sua.
(C+E)³
*
Um relato superficial de alguém que não viu, mas ouviu atentamente. Minhas
Histórias dos Outros.
5 comentários:
Um momento especial e real transformado em poesia... Adorei!
*Mirifici
Belo belo
dá vontade de fazer umas confissoes pra desapegar-me da lembraça.
parabens, bela.
"O fim da fuga". Adorei a frase. Mil beijos.
(Recuperando o fôlego)
...Momentos privados em lugares públicos sempre rendem incoercíveis memórias, diria que as mais marcantes entre as lembranças.
Tudo se torna mais intenso e inevitavelmente memorável...
Com uma escritora tão messalina quanto o texto, a reconstrução se torna ainda mais fiel, assim como o anseio que nos passa.
Unik Tanpa Nama
O controle está só na palavra, não há razão para tê-lo. A lembraça é doce, é uma degustação dos neurônios que já não existem mais.
Postar um comentário