sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ledo Engano


O som era de silêncio. Pela primeira vez parecia que Tyhmä não ligava pra o quanto duraria a espera. Disritmia? Não deu palpite. Também, pudera, com toda aquela aceleração. As ideias todas lá desmoronando e ela buscando a palavra perfeita que lhe trouxesse explicação.

Tyhmä esperava ver o invisível? Queria provar o quê? Pra quê? Questionamentos que ela não fez. Fato é que esperava dando ares de importância àquele que seria um dos seus maiores despropósitos, filho da desnaturada esperança, que no fundo nunca deixou de ser criança, daquelas travessas, perversas mesmo, sabe? Das que desmantelam as coisas só pra ver como funcionam e nunca mais conseguem montá-las de novo.

No fundo Tyhmä sabia que não havia nada, que era a própria espera o motivo da estada. Pode-se dizer que esperou pela graça de esperar. Esperava os aromas de algo não necessariamente material e esperançava a integridade da sua materialidade não necessariamente essencial.

As horas passavam, arranhavam, batiam, cuspiam, mas ela não ligava. Os minutos se arrastavam lentamente, zombeteiros. Ela até achava graça. Permanecia imóvel, embora não estivesse na costumeira letargia. Parecia que, muitas vezes, tinha era preguiça de existir.

Tão desajeitada, essa menina, vivia feito obra pela metade, tinha um “quê” por se (re)fazer. Talvez por isso não fizesse caso em se desfazer a todo momento. E desmoronava na habitual avalanche de si. Naquele dia foi pra cama com a insônia no cangote. A alma pregada no teto era toda caretas. Entendeu, então, o despautério: era o tempo que ela esperava. E, sem que ela se desse conta, ele passava. 

3 comentários:

Andréia Félix disse...

"Era o tempo que ela esperava. E, sem que ela se desse conta, ele passava"

Só esse trecho poderia render horas de divagação... tenho mudado minha opinião sobre a passagem do tempo, sabe? Ainda quero escrever sobre isso...

Bjo!

Ana Claudia disse...

Que delícia de texto, Gi!!!
Repito: tem um tom profundo e leve ao mesmo tempo. Parabéns!!

Beijo,

Madson Moraes disse...

Um reencontro de várias mulheres consigo mesmas é um reencontro danado de porreta. Ótimo o texto.

Beijos,
Madson