sexta-feira, 17 de junho de 2011

Um do outro outrem

O coração se afundava em inconstância até quase sair de vista e Inocêncio nada fazia, ziguezagueava pelos ponteiros do relógio sem saber o que era noite ou o que era dia. Foi se apequenando em breve instantezinho e a dor foi se instalando, se agigantando e cegando seus sentidos, rasgando sentimentos e botando fogo em todas as lembranças. O retrato foi esmaecendo, esquecendo de ter cor, foi desvivendo, agonizando ali e ele nada fazia. Esquecia-se em desistências. Era tempo de dormências, nem mesmo a saudade, que gosta de preservar frequências, pôde guardar qualquer escombro que fosse. Tudo em desvario, se esvaindo, se perdendo, apodrecendo, desexistindo, por demais pior que qualquer outra coisa. E no intento, um passado ia se desconstruindo sem que sequer desse tempo de reparar. Era o próprio tempo quem estava a comandar. Ainda que achasse pecado esquecer, assistiu a distância crescer. Das águas que lhe acortinavam os olhos, nunca anunciara lágrimas, dizia ideias dissidentes que abandonaram o partido dos pensamentos. E na intermitência dos dias gotejava os restos de um outro, em si já outrem.

3 comentários:

Daniel Franco disse...

Que linda maneira de expressar, de usar as palavras.
Foram tantos andos, endos que os indos passaram desapercebidos.
Que belo "lampejo".

Anônimo disse...

Quando o tempo toma conta do passado e nem mesmo a saudade consegue preservá-lo, as lembranças de nada valem, pois o sentimento daquele instante passado é ofuscado pelo presente... perde o brilho, perde a cor, perde a vontade de manter na lembrança...

Mas o importante é fazer com a origem do sentimento se torne outrem em si, e não tornar-se em si..outrem..

Faz de teus sentimentos reflexos de seus sonhos, e não eco de um pretérito por mais que seja perfeito..porque a perfeição só existe quando a observamos, quando tentamos refleti-la (em todos os sentidos) vemos que não passa de um amontoado putrefato.

Cris disse...

E enquanto isso o sol despontava anunciando um novo dia.Casulos se romperam e novas borboletas esvoçam sobre as flores que desabrocham, ao som do canto dos pássaros. Não são as mesmas borboletas, as mesmas flores e nem os mesmos pássaros que outrora viste em sua vida, embora sejam iguais e façam as mesmas coisas.
O que não percebemos é que o tempo nos renova todos os dias, embora permanecemos os mesmos frente aos outros tal como um passado que se faz presente o tempo todo. Mas dentro de nós há uma certeza inquebrantável, um querer inabalável pela vida, impossível de ser visto por qualquer um à olho nú.
É isso que nos diferencia do passado, dos outros e nos faz querer o presente a todo instante.
Gosta de lembranças? Que tal lembrarmos que estamos vivos, que inventaram o chocolate, as festas, friends (seriado) e muitos amores para se amar...aaaahhhhhhhh...eu quero é me acabarrrrrrrr!!!!!