domingo, 12 de junho de 2011

Olhos de Porcelana


- Moça, moça... Moça!
Ela ouviu, mas entre tantas moças porque haveria de ser ela a solicitada? Continuou a caminhada rumo aos pensamentos, longe, longe dali. No entanto, os chamados foram se aproximando dos ouvidos até que barba e cabelos brancos andavam ao lado dela.
- Posso te dar um presente?
*Os olhinhos azuis foram se apertando à espera da recusa.
- Pra mim?
*A desconfiança da pergunta descortinou um sorriso anuviado.
- Sim, pra você!
- Porque pra mim?
*Apertando os passos.
- Ah... Porque você é linda.
- Então só as moças bonitas ganham presentes?
- Não, todas ganham, mas só as lindas ganham de desconhecidos. E prosseguiu apressado antes que ela pudesse interromper: - Quero lhe dar um poema, você aceita? Não precisa nem pagar. O poema já era seu.
Diante da impossibilidade de reusa ela leu:
“Moça

Tuas rubras, pétreas, serenas coxas.
Fitam meus olhos claros e baldios

Olhos dum tímido, duma louça

Feitos da pura porcelana viril.



Mira-te minha lira – esquadrinha-,

Meu riso – denuncia-,

Minha agonia – surge

Fraca como tecido de nuvem.


Num jato fabuloso, imagino

Verter sobre seu rosto o líquido

Que alimenta os deuses do Olimpo.



Vinho, néctar, ah, não importa,

Não importa até mesmo o fel

Se quando a sinto, sinto o próprio céu.


Antonio Luiz Junior,
ou simplesmente Tony”

Vendo-se refletida tão... “Linda” nos olhos de porcelana do senhor, quis se demorar naquele estado. Temeu ter que devolver o papel e foi se antecipando: - olha, eu to com pressa e não...
- Não se preocupe, já disse, o poema é seu. Minhas musas sempre aparecem depois da obra pronta. Pode levar, só não me esqueça.
Ela, comovida e atordoada com a delicadeza sensual do poema, foi embora levando o papel, mas já sentindo que deixava algo.

9 comentários:

Daiane Brito disse...

Adorei!!! Mas, senti vontade de chorar rsrsrs

Um dia do nada um cara me parou no metrô e me entregou um papel... Ele tinha me desenhado perfeitamente! Também não entendi na hora, mas adorei a surpresa.

Cris disse...

Esse velho me pareceu meio tarado! Faz poesias sensuais inspirado em sua lascívia, depois sai as ruas em busca de deusas com egos fragilizados, na tentativa de enternece-las para facilitar o rodo, já que ele não pode mais contar com seus dotes masculinos, destruídos pela andropausa.
Mudam-se as armas, mas não o espírito do caçador...hehehehehe!

Cris disse...

Mesmo assim, muito boa a cantada...hã...quero dizer...poesia! Muito bonita!Será que ele tem grana prum viagra?

Andréia Félix disse...

Adorei o poema e a forma como você contou o episódio.

Não vi malícia, mas a vontade de mostrar para alguém aquela arte que depois de pronta pensamos: "isso não pode ficar comigo, preciso compartilhar esse momento de inspiração com alguém".

E, de fato, a arte merece ( e precisa!) ser divulgada!

Bjo!

Daniel Franco disse...

Sempre escrevemos pensando em alguém, nem que seja si próprio. Por sorte o "velho poeta" conseguiu encontrar uma "deusa" para representar a "musa" de seus pensamentos.
Encontros fabulosos sem ter um porque. Adorei te ler. Bj.

Anônimo disse...

O nome da atriz é Mila Kunis. Miley Cyrus é a Hannah Montana.

Um beijo e até julho,

Bruno

P.S.: Texto bacana. Gostei! ;0

Anônimo disse...

Que sensação deliciosa deve ser ver-se refletido de forma tão doce aos olhos de alguém!
Todos nossos sentimentos pertencem de alguma forma a alguém, todos os poemas expressam nossos sentimentos, sendo assim nossos poemas também pertencem de alguma forma a outra pessoa.
O poema do senhor de barba branca e olhos azuis pertencia a esta linda moça, e os teus? A quem pertencem?

Gislene Trindade disse...

Hahahaha... "Sr. Anônimo Bruno", pelo menos acertei o primeiro nome.

E, pois é Sr. anônimo2, assim como o "Velho Poeta", escrevo pra depois encontrar o "Muso" (rs+). Se é que o Daniel me empresta os verbetes dele, "encontros fabulosos [acontecem] sem ter um porquê".

Daniel Franco disse...

Opa Gi, com certeza, Voce nem precisa pedir. Bj.