segunda-feira, 27 de junho de 2011

Enlevo

A prateleira de livros caídos guardava a história de um passado, quem sabe, distante, certamente não mais constante, vivente letárgico. Era tempo ido já quase órfão de memórias.

No próprio enquanto, ocupando mesmo espaço, mas em diferentes dimensões, um senhor de si ia até ela com ares de arquiteto para edificar pensamentos e solidificar esquecimentos em meio à confusão dela que era toda ela.

A desordem da alma reverberava em cada pedaço do lugar, mas não tinha importância. E os sorrisos fora do tom, os silêncios sincronizados, as palavras despidas. Era tudo sussurro, pra não despertar a razão. Eram corpos desnudos, pra inocentar o coração.

Mesmo sabendo que os pensamentos mancos logo voltariam a se arrastar pela casa com seus velhos tamancos, ela, ser errante, em oscilar de intentos permitiu-se em vacilos, vagueando pelo despropósito irresistível do acaso, pai desnaturado do casual.


6 comentários:

Procopio disse...

Vou te falar uma coisa: a construção do local, a desconstrução dos momentos... Gostei muito.

Os abraços, amassos e os olhos, janelas indiscretas da alma.

Mesmo sabendo dos pensamentos mancos...

Beijo!

Andréia Félix disse...

Eu sou a razão! rsrs

Permirtir-se em vacilos e vaguear pelo despropósito irresistível do acaso. Adorei!

Bjo!

Anônimo disse...

Esse poema retrata tanto você..a cada linha que eu lia na mente vinha o flesh de um momento que traduz as palavras escritas..."(...)as palavras despidas...Eram corpos desnudos, pra inocentar o coração"

Como se fosse hoje..um diálogo diante da pia, comendo torrada como se fosse a cura para ressaca que inspirava confissões, encarava cada confissão como um escudo a menos em sua batalha contra seus sentimentos, talvez não soubesse que estava ganhando um aliado, mas este porém não sabia que as confissões eram pra inocentar o coração..e esta acaba de se tornar mais uma confissão....

Fabrício matrone disse...

Olá pequena grande mulher.

Sim e como essas lembranças aparecem, porém temos que conseguir novos personagens, sempre.

Como está gatinha?

Beijos

Cris disse...

É um doce deleite vaguear pelas emoções torpes de um passado que lhe pesa nos ombros, ocupa espaços e entorpece sentidos com seu cheiro ocre. Acostuma-se tanto com a dor que já não se vive mais sem ela.Trancam-se portas para não deixa-la ir embora.
Falta coragem de deixar a razão entrar para mudar tudo isso, por medo de ver o espaço vazio; falta animo para preenche-lo e uma nova busca dá uma preguiça danada!
Sussurre o mais baixo que puder sim, para não acordá-la e passe pela vida sem ser notada.

Daniel Franco disse...

Só tem lembranças quem viveu, quem sorriu e quem sofreu.
Ainda estou degustando seu texto, prendo-o na boca como um bom vinho e sinto com perfeição a cada fio que escorre por minha garganta seca de idéias.