terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Fique sã! Fique só!

Já naquele enquanto lhe era muito natural ver as lembranças em rebento, entrecortando cada pensamento. Do coração inquieto só lhe restava dormências. E o farfalhar frenético dos dias era todo sofrências.

...

Andou descalça, tropeçou na porta quebrada e parou diante do espelho. Há dias não se via. Se olhou demorada, com certa cerimônia, quase como se não se conhecesse. Ateve-se olhando os olhos, mergulhou na retina e viu um filminho: uma encantadora fábula de nós que desataram e viraram sós. A história não era triste, mesmo assim ela chorou. Esperou subir os créditos, mas, curiosamente acabou sem fim.

Enquanto observava as personagens, não pôde deixar de notar a dialética Felicidade, com todas suas odes aos bons momentos. Ahh... Felicidade, tão cheia de alegria e desprendimento. Ahh... Felicidade. Mas em um tropeço a protagonista fez-se antagonista. O mais curioso foi descobrir que essa vilã jamais mostra os dentes sem morder. Passado o enlevo, riu-se da imagem diante de si.

Desconsertada, Lea procurava a noite como criança pede colo. Só queria dormir, passar um tempo assim, em trégua de existir. Certas manhãs despertava cansada, tão árduo era voltar à realidade. Despretensiosamente pintava um sorriso nos lábios e saia. Em algumas dessas manhãs eu a encontrei, criatura de outro mundo. Pobre alma descoordenada. E eu que sequer tenho intimidade para lhe dar conselhos. Aliás, quem sou eu para tê-los?!

2 comentários:

Felipe Teles disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel Franco disse...

A viagem ao mundo interior nos faz sobreviver a cada dia, nos desconecta de uma realidade servil, do sorriso amarelo, de canto de boca. Conselhos? pra que tê-los?
Não procure pelos créditos, rebobine.