quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Demasiadamente humano

A idade chegara à surdina, traiçoeira, pegou de açoite. Exausto do próprio cansaço, via com desprezo desdenhoso a alegria alheia. Era duro, frio, seco, mortificante. Quem havia lhe ensinado aquele jeito de olhar tão cheio de poréns? Nas pestanas via-se refestelada a dor travestida nas suas mais variadas facetas.

Se deixava de sorrir, que fique claro, não era pela falta de dentes. Estava alheio, mas nem por isso deixou de notar minha presença. Percebi que ostentava a superioridade dos muitos anos vividos como quem exibe um pente ganhado pelo tempo quando já não há mais cabelos.

Senti uma ânsia, queria tocá-lo, desenhá-lo, fotografá-lo, filmá-lo. Teria feito uma música, um filme sobre ele. No desatino fiz nada. A indiferença fora, sem sombra de dúvida, o manto escolhido por ele para manter-se longe de problemas, longe das pessoas. Pelo que percebi, a ausência dele nele servia para distanciar os curiosos ou mesmo castigar os atenciosos, que afinal poderiam não passar de curiosos.

Arrisco dizer que foi o cachorro mais velho que já vi.

Foi o cachorro mais triste que já vi.

Foi o cachorro mais...

Humano que já vi.

4 comentários:

Cris disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkk...continua conversando com cachorros...não acredito...kkkkkkkkkkkkkkkkkkk...ai...aiiiiiiiii!
Pera aí! Ele não respondeu desta vez não né?!

"PoetaLuar." disse...

Pessoa, de passagem aqui! Porém, em breve verei este teu espaço com mais atenção!
Beijo em ti,

www.luaresesol.blogspot.com

Andréia Félix disse...

Nossa.. fiquei curiosa em conhecer o cachorro. Se tivesse escrito no feminino, juraria que seria a Polly em um dia ruim. Aliás, tenho sentido ela meio triste ultimamente... sozinha... Então, tento alegrá-la com o moleque e a madonna, mas não tenho certeza se tem dado certo..

Daniel Franco disse...

Um cachorro sobrevive enquanto possuir dentes.
Nós, enquanto o pensamento florescer.